sexta-feira, 20 de abril de 2012

ODIANDO PESSOAS



Chego na megalópole São Paulo. Nessas viagens tenho aprendido a dormir de forma minimamente confortável em cadeiras confrontáveis e cada vez mais adquiro um certo ódio pelos seres humanos que observo dentro da ignorância e do egoísmo.

No avião por exemplo, quando o pássaro de ferro pousa, dali a 5 minutos que está taxiando, as pessoas já começam a tirar cintos e ligar celulares. Duas coisas perigosas e proibidas. Em seguida o avião para, porém ainda não é hora de levantar, ainda não deram o sinal, as turbinas não pararam, as portas não estão no manual, mas adianta avisar? Não! Porque aparentemente 90% das pessoas estão realmente atrasados para um compromisso, com o presidente da Itália ou a bunda delas tem alergia a cadeiras de avião. Todo mundo simplesmente levanta apressado, sai pegando as malas e... E??? EEE?
Nada! Todos os idiotas ficam parados no corredor do avião esperando a porta abrir. 
Ficam ali espremidos, pelo menos uns 4 a 5 minutos, parados. Como perfeitos idiotas se espremendo. 

Eu fico puto. Uma vez estava sentado no corredor e o sujeito que estava ao meu lado na cadeira da janela, mesmo sem eu levantar, se levantou, esperando que eu fizesse o mesmo. E eu não fiz, não mesmo. Até porque, do meu lado direito já tinha uma bunda marrom ocupando o corredor. Não tinha pra onde aquele homem ir. “Você quer passar?” “Quero.” “Pra onde? Não cabe ninguém”. E fiquei sem mover um centímetro e o sujeito também, ele se recusou a sentar novamente e esperar o corredor começar a andar.  Ele ficou esmagado com o pescoço torcido e a orelha encostando no teto do avião, apoiando os cotovelos na cadeira da frente. Que ódio.

Além dessa pressa sem sentido. E digo sem sentido mesmo, por que todos saem correndo  e acabam nas esteiras esperando as bagagens chegarem. E elas sempre demoram à chegar. Ou seja, adianta?
Enfim, além disso, as pessoas não percebem que existe um sentido de bom senso na ordem da saída do avião. É óbvio que, se a porta da frente abre, sai a primeira fileira, depois a segunda, em seguida a terceira, a quarta e etc. Mas não, o povo ta pouco se fudendo, eles vão passando a frente. E se você por exemplo, está na fileira 11 e não acompanhou o bando de ignorantes na hora de levantar e ficar 5 minutos de pé espremido, você simplesmente perdeu a vez. Por que dificilmente alguém vai ter o mínimo de educação pra te dar a vez. O pessoal que vem do fundo segue pelo corredor como se estivesse fugindo da AIDS em pessoa. Ninguém tem coragem de parar, ser educado e fazer a gentileza de esperar você levantar, pegar sua mala no armarinho em cima das poltronas e se tornar o novo líder de fila. É irritante. 

Tão irritante quanto os carros que não param na faixa mesmo com o pedestre dando sinal de travessia. Como isso me irrita, eu tenho vontade de apedrejar o carro.

E  pior, do aeroporto, eu pego um ônibus que me leva até o terminal onde eu pego um metrô, e do metrô vou a pé pra casa. A ignorância de um metrô cheio de pobre é a mesma de um avião cheio de rico. Cada um só pensa no seu umbigo. Ali o bom senso morre, assassinado.

 Sempre que pego metrô às 18 horas é a mesma história. O povo que quer entrar no vagão simplesmente não espera quem precisa sair e vai empurrando e pronto. As pessoas não sabem falar “com licença”. E não é que não aprenderam, elas realmente não sabem falar. De usarem tão pouco, esqueceram como fala. O “Com licença” virou “cenç...” Ela fala “cenç” e engata a primeira marcha. É foda. No metrô das 18 já vi várias vezes as pessoas se empurrando de verdade, espremendo umas as outras, acotovelando e etc. E ninguém faz nada. Não sabem pedir licença, nem desculpa e nem reclamar ou exigir o mínimo de bom senso.



Em uma dessas vezes, eu estava sendo esmagado junto com mais sei lá quantas pessoas por dois ou 3 homens que empurravam a todos para conseguir entrar no metrô onde não cabia mais ninguém, eles realmente se apertavam para a porta do vagão fechar sem prender alguma parte dos seus corpos.  Nesse empurra empurra eu grito “Ei! Não cabe mais niguém! Parem parem! Não cabe mais!” Gritei o que era óbvio, e ninguém, repito, niguém disse um “piu”. Inclusive recebi alguns olhares de desaprovação. Os 3 homens continuaram a empurrar ignorando meu aviso. Fiquei com raiva e quis falar “Vocês estão pouco se fudendo, é isso? Não escutaram não?!” Mas não sei por que falei “Ah! Vocês estão se fudendo, é isso?” E parei por aí... Me sentindo estranho, acho que estava tão aperta que espremi meus pensamentos.

Em outra ocasião, estava com minha mulher no metrô,  ela não morava em São Paulo. Ela recebeu umas 3 “ombradas” andando pelo corredor meio cheio do metrô. “Oh, as pessoas não desviam não, que absurdo”  aí respondi “ué, os dois tem que desviar um pouquinho cada, né?” “Pois é, mas as pessoas simplesmente não desviam nada, elas acham que apenas os outros tem que sair da frente do caminho delas”. Eu fiquei na dúvida se aquilo realmente acontecia, comigo naquele momento não estava rolando, eu desviei de todos. Ela disse “Quer ver?”. E imediatamente se pôs a andar como todos, seguindo reto sem desviar sua rota ou esquivar ombro e tronco com medo de esbarrar em alguém, ela simplesmente seguiu.  Eu fiquei assistindo, e vocês não acreditam. Ninguém, mas ninguém desviou!  Ela deu umas 5 “ombradas” em pessoas diferentes, ela firmou o ombro e foi; homens de terno, estudante, uma senhora e uma mulher jovem. Nenhum deles desviou nem um milímetro o ombro. Dos 5 uns 3 olharam pra trás com cara de “Que absurdo essa louca!” e seguiram reto.  Cegos, cegos, cegos. Que raiva!



Nesse dia da história anterior, quando fui esmagado, ao sair do metrô vi um mar de cabeças. Nunca tinha visto tanta gente em uma estação. Todos, apertados, andando devagar, pelas escadas e escadas rolantes, saindo e entrando, gente de todos os lados e espaços possíveis. Erámos verdadeiros gados, gados nos pastos metálicos das minhocas de metal dos mais afortunados que seguiam de helicópteros acima de nós. Diante daquela constatação, fiz o que meu instinto de ator improvisador me pedia à fazer, me expressar! Expressar  o que meu organismo e alma sentiam naquele momento, expressar o que eu era ali, naquela contexto. E respondendo a este chamado, sem titubiar, me pus a mugir! Mugir como uma vaca que segue  no rebanho.
“Muuuu, Muuu”.
No terceiro mugido, umas 3 pessoas das 300 em minha volta perceberam o que eu tentava comunicar e começaram a rir da própria e triste realidade.
Nesse momento vi a comédia tendo uma função social. E isso me fez suportar mais um pouco aquela realidade.

FIM


Lembrete: se o governo quer melhorar a qualidade de vida, poderia começar a abaixar o preço de perfumes e desodorantes! #reflexoesnometrô


CASALTOPIA Temporada 2 Eps. 4




Valeu por mais uma COMICOZINHO !!!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O LADO PESSOAL

Como a gente fala coisa sem nexo, né? A que a gente mais fala é “Oi, tudo bem?” É impossível estar tudo bem, mas  falar isso já é tão batido que... “tudo bem”.

Agora, eu odeio quando alguém fala pra “não levar alguma coisa pro lado pessoal”.  Sabe? Uma vez que eu sou uma pessoa, é difícil não levar pro lado pessoal.



Se eu fosse um cachorro tudo bem.  “Oh, eu vou te dar um chute, mas não leva pro lado pessoal”. Eu ia entender.

Isso é uma desculpa pra falar ou fazer uma coisa que incomoda, sem querer se dar mal.  A pessoa acha que  pode falar o que quiser se ela começar dizendo isso.   “Olha, não leva pro lado pessoal, mas vai se ferrar”.

 Todos os lados são lados pessoais!  Vamos ter mais consciência do que a gente fala!

Fiz um sanduiche pra um amigo lá em casa, ele falou “Olha, esse sanduiche ficou uma bosta, mas não leva pro lado pessoal”.
Seria melhor ele dizer “olha esse sanduiche ficou uma bosta, mas não leva pro lado emocional”.  Ou seja, não fica triste por causa disso.
 Faz mais sentindo, falar lado pessoal é como dizer:

“Olha, esse sanduiche ficou uma bosta, mas não leva pro lado estomacal”
“Olha,  eu acho que você é muito burro, não leva pro lado mental”
“Essa roupa ta  ridícula, não leva pro lado visual”
“Vou chutar seu saco, mas não leva pro lado escrotal”
 “Vai tomar no cú, mas não leva pro lado sexual”


Se não gostou desse texto, foda-se... mas não leva pro lado pessoal.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Romântica comédia






Combinamos de viajar no fim de ano. Passaríamos a virada do ano, adivinha onde? Em uma ilha. Sim, mais romance impossível, a vida que imita os filmes, os filmes da vida, os filmes que copiam a vida. Seria nosso terceiro encontro.  Moramos em cidade diferentes.

Primeiro Curitiba. Esperei ela no aeroporto, ela chegou com frio e um pouco tímida. A observei me procurando por alguns segundos, sorri por dentro ao ver sua incerteza momentânea que todos sentem ao passarem pela porta que se abre automaticamente acionando uma pequena dúvida “Será que ele veio mesmo?”.  Dúvida rápida que passa ao passageiro de momento.

Me escondi atrás de outros abraços e sorrisos, ela foi para um lado, eu estava no outro, a peguei por trás. Ela sorri, é um reflexo do meu sorriso. A gente imediatamente se beija. Novamente me impressiono. Sempre que a beijo novamente, sinto que é muito melhor do que consigo me lembrar. Um abraço forte naquela magricela branquela. Pego a mala, seria um absurdo deixar ela carregar. Mãos dadas, poucos palavras. Na verdade as básicas “Boa viagem?” “Que saudade” “Que bom que chegou”, preocupação, carinho, felicidade. Palavras eram pequenas perto pegar na mão dela novamente.

Estamos dentro do carro, em uma cidade velha para mim,  para ela novíssima. Isso me reanima em relação a Curitiba, quero exibir a cidade modelo que já tanto xinguei e amei. No carro sinto uma coisa estranha.. Já sei.... São minhas mãos. Droga. Minhas mãos estão no volante, é isso! Elas querem toca-la, minha mão direita odeia passar marcha nessa hora, a direita sonha com o interior daquele zíper, enquanto a esquerda sofre no volante pensando em segurar aquela nuca.  Não me lembro da nossa conversa, me lembro do maldito sinal verde que interrompia nossos beijos. Tantos eternos sinais vermelhos passei sozinho... E agora o maldito verde nos atrapalha.

Finalmente em casa. Está vazia, minha família viajou. Já não é minha moradia fixa, mas sempre será meu lar.  Malas, água, banheiro, papo furado... Essas coisas de quando a gente chega de viagens.  A pequena distância dentro do carro aumenta minha vontade de tê-la.

Vamos logo para a cama, uma grande e fofa cama cedida por meu irmão. Nos comemos. Não foi como da primeira vez, quando na minha casa, fizemos amor. Carinho, cuidado, generosidade. Agora não, éramos dois egoístas querendo nos satisfazer um com o corpo do outro e foi tão bom!  Ela perfeita, nos encaixamos e seguimos encaixados até o fim. Braços e pernas se misturam, a beijo com tanta força que dói, ela solta um “Ai!”, paro, sorrio e volta a beija-la.  A intensidade da saudade acelera nosso gozo. Agora sim! Podemos começar essas férias.

Tomamos banho juntos. A banheira enche e estamos sentados nos lavando.  Estou sentado com as pernas entre abertas e os joelhos para cima, algo bizarro acontece. Ajeito minhas pernas e nisso, meu pau que estava prensado entre as coxas se solta e sobe, boiando. Quando percebo aquela cabeça de tartaruga branca enrugada surgindo na superfície da água tomo um puta susto! Esqueci que tinha pau. Pensei que era qualquer outra coisa, menos meu pau. Dou risada e revelo a minha idiotice pra ela, que ri ainda mais alto, muito mais alto, ri muito a desgraçada.

Passeios em parques, sorvetes nas praças, enfeites de Natal, beijos, lenços e duas panquecas gigantes com muita batata frita. Para fechar, seção dupla de filminho no sofá, Matrix (acredita que ela ainda não tinha visto? Um absurdo!). Vemos algumas fotos do nosso dia, ela tem vergonha, está com o canto direito do lábio inferior roxo. Lembra daquela “Ai!”? Pois então...  Meus pais vão chegar logo mais a noite, depois de transarmos de novo, ficamos meia hora pensando em desculpas para a boca roxa, ela jura que todos vão reparar, eu sei que não vão falar nada.

Minha família chega tarde, nós  vamos sair cedo. Ela se arruma para meus pais, está ansiosa . Eles são muito legais. Fico feliz com o encontro.   Exibo o presente que ela me deu, um quadro. O quadro mais legal do mundo! Minha mãe empresta para a desconhecida um de seus moletons, está frio, ela preocupada com a magricela.  O pai fala que vi nos levar na rodoviária de manhã. Meu irmão senta com a gente no sofá, assisti um pouco  Matrix Reloaded e se vai. Ele gostou dela também. Nos abraçamos  no sofá, aliviados. Pela manhã café da manhã com o paizão que gosta de puxar papo com a mineirinha. Eles se dão bem, é bom vê-los conversando, parece que ela é velha amiga dele. Generoso como sempre, nos leva a rodoviária e isso o faz feliz. Gosto muito dele, já me levou na rodoviária mais de mil vezes, é lindo esse carinho.


Descemos do ônibus depois de uma hora de viagem onde dormimos descontando o sono reduzido da noite anterior. Encontramos um colega que eu não sei o nome (mais um que não sei o nome,  quero parar com isso de não saber), ele levou uma bicicleta, estava indo para a mesma ilha, batemos um papo e nos separamos.

Andamos um pouco pela pequena rodoviária, o acordo é que o dono da pousada iria nos buscar na rodo e nos levaria em sua barco até a ilha.  Aparece um senhor de olhar preocupado, ele caminha em direção nosso ônibus, nos olha e pela nossa branquelice deduz que somos o casal que veio de São Paulo. Ele pergunta “Thiago?”. Digo “Não, Fábio, serve?”. Ele coloca a mão na cabeça  e pede desculpa, começa um discurso sobre como está com a cabeça cheia, cheia de cobranças, cheia de pessoas, cheia de preocupações e esse discurso segue praticamente todas as vezes que nos encontramos. Nos leva até o local da onde seu “marinheiro” nos conduziria em um barquinho pequeno, para apenas 5 pessoas até a ilha em um viagem de uns 30 minutos entre ilhas, é um passeio bonito. Nunca havia feito, um outro casal segue coma gente, mal nos falamos, eu ela não nos desgrudamos, cada oportunidade para dar as mãos aproveitamos e seguimos nos beijando com intervalos curtos para também não cansar e apreciar a vista com muita água barcos ao longe e pássaros do mar.

Chegamos em Superagui, é linda! Simples e linda, simplesmente bonita.  Casinhas, barzinhos, pousadinhas... Tudo é “inha” ou “inho”, pois lá a todas as coisas grandiosas não foram feitas pelo homem, mas pelo Big Bang, se Deus fosse um Rapper aposto que se chamaria “Big Bang”.  A pousa é uma graça, sim, uma graça, foi o jeito mais “gay” de colocar, mas se fosse visse ela diria uma graça também. Entramos no quarto, ajeitamos mais ou menos a coisas e,  adivinha! Transamos! Como é bom transar, né? Com ela então, recomendo, viu? Embora espero de verdade, que não siga minha recomendação. 

Depois testarmos os estrados da cama (uma vez que é impossível sentir o colchão mais fino do mundo) saímos para explorar a ilha. Saímos felizes pela deliciosa transa, mas principalmente por que a cama apesar de ter estrados macios não faz barulho quando brincamos de trenzinho em cima dela.



Confesso que a sequência dos fatos de mistura na minha cabeça a partir de agora, foram maravilhosos dias parecidos. Colocarei na ordem que lembrar ou sentir.

Almoços agendados, muito camarão frito, coisa que ela nunca havia comido, assim como caranguejo! Ela gosta de tudo, e vou te contar, viu? Ela tem experimentado algumas coisas novas e tem gostado bastante, me orgulho de ser digamos, seu “conselheiro”.  No primeiro almoço há uma tv no canto do restaurante vazio que transmite um jogaço! Barcelona e Milan! Fico feliz por poder ver o jogo. Grande jogo! Empates e desempates, no penúltimo gol, no meio do segundo tempo descubro que o jogo é uma reprise e que pior! Eu já havia visto e não lembrava. 

Ela é linda, insuportavelmente linda! E seus beijos... Esses são os melhores que já dei, gosto muito mais dela quando estamos nos beijando, por isso a beijo toda hora, gosto de segura-la firme, assim como ela também o faz, é insuportavelmente bom, aliás... na verdade é bem suportável, passaríamos um dia inteiro nos beijando, e nem precisaria ser uma competição por um carro dessas idiotas que passa na tv. Não, nossa idiotice já é suficiente.

Um sonho dela era andar no píer! Quando soube disso dei risada e fiquei muito feliz de poder estar junto com ela na hora de realizar sonho tão singelo. Adoro essa palavra “singelo”!

Fomos caminhar por uma longa trilha que nos levou até a “Praia deserta”. Caminha longa e bonita, muita besteira foi dita, o ar estava leve e fresco, fotos tiradas e pouquíssimas pessoas encontradas no caminho. Entre elas uma família inteira de bicicleta, não só pai mãe e filhos, creio que haviam ali tios também, e não estávamos na China!

Depois de fugir de um enxame de mosquitos ao passar por um riacho escuro chegamos a Praia deserta. Um grande falcão nos recepciona, ela pousa em nossa frente e diz “bem vindos amigos do continente”. Tá, eu to viajando, mas um falcão passou por cima da gente e foi um lance muito legal, tá?  Muita areia entre nós e o mar. A Praia era muito grande e bonita, havia alguns grupos de pessoas ao longe. Andamos um pouco observando coisas que a maré trouxe até a areia, impressionante o número de tamancos e chinelos, tamancos bem feios, me parece que um barco cheio de travesti afundara por aquelas águas. Ou Yemanjá estava devolvendo os pares que não gostou de receber no último ano novo. Eu e ela concordamos que é muito escroto ficar jogando lixo no mar para homenagear a Deusa, acho que tudo bem jogar  algo natural, que vai se desintegrar, mas garrafas de vidro e roupas! Toma no seu escuro cú! Nos sentamos em um morrinho de areia com algumas plantinhas verdes em volta e adivinha? Transamos! Brincadeira de novo! Não... A gente fumou maconha! Pois é. Foi a estreia dela nisso também, acho que gostou mais do baseado do que do camarão empanado, eu prefiro o empanado, perfeito seria baseado empanado!

A gente começa a rimar, adoramos brincar disso. Algumas rimas são boas, a maioria é horrível e entre todas ela solta uma pérola!

“Eu não vou voltar, não vou voltar naquela trilha
Porque eu tenho medo, tenho medo da matilha
A matilha é de lobo, alcateia também!
Eu não sei os coletivos eu estudei foi na Feben!
Em, em em eu estudei foi na Febeeeen        
Em, em em eu estudei foi na Febeeeen”

A gente ri muuuuito! E não precisa estar chapado pra rir dessa rima improvisada. É muito bom ver essa se divertindo. Fico feliz por que não entrou em “bad trip” com a ilícita. Ela está linda sentada na areia com seu lenço na cabeça.
Depois de muita risada decidimos voltar andando pela praia. Nos deparamos com uma das melhores atrações para pessoas chapadas em ilhas desertas: um confronto entre o mais corajosos dos Siris  e um Labrador! Foi emocionante ver esse encontro que a natureza vive proporcionando e que o Discovery Channel mal sabe aproveitar. Mas nós soubemos, filmamos e narramos a coisa toda.

Mais alguns passos e percebo que faz mais de 30 minutos que não nos beijamos, uma tragédia!  A puxo com força novamente nos encaixamos. Típica e deliciosa cena de filme, mais uma! Beijo pefeito. Perto do fim, quando estava chupando delicadamente seu lábio inferior a maré nos alcança refrescando nossos pés, massageando nossas pernas e tornando tudo ainda mais mágico. Naquele momento sinto que casamos! Como se o mar nos abençoasse perante toda a natureza!  “A gente casou Be!”.

















segunda-feira, 9 de abril de 2012

CORDEL HUGO CAMELÔ



HUGO 

Muito prazer, me apresento
Sou o Hugo, o camelô
Venho de longe, do nordeste
Da terra do meu avô
To aqui, bem cansado
Sou o bagaço, do que sobro

Mulher já tive mil
Homem já matei cem
Já mordi cobra e rapa dura
Já parei bala e trem
Se isso  não for verdade
Que  me levem pro além


Já conquistei mulher melão
E aquela melancia
Já provei mulher vaca
E mulher melancolia
E uma vez tomei um susto
Quase peguei minha tia

Uma vez beijei mulher
Que parecia um canhão
Tinha uma mão grossa
E um pomo de adão
Foi no susto que acordei
Era mulher pião!

Vou ficando por aqui
Pra não mais te amolar
O tempo é preciso
Tem que saber gastar
Só for pra gastar o tempo
Melhor que seja num bar!

Mas antes de ir me embora
Um lembrete para você
Aquela mulher pião
Que mandou lhe dizer
Que ta morta de saudade
Ta loca para te ver!

terça-feira, 3 de abril de 2012

CORDEL TOSCO

Fui para o Nordeste duas vezes esse mês. Me encanta a cultura daquele povo. Entre muitas coisa, amo os CORDÉIS... Resolvi escrever um... e claro.. ficou uma bosta... Mas ta aí.



O FILHO DE ZINHO E PEQUENA

Andava pela rua
Noite já era,
A vida era toda sua
O amor o espera

Olhava alegremente
As moças ao redor
Foi quando de repente
Se aproximou da menor

Tipo minhonzinho
Era morena
Olá, me chamo Zinho
Oi, eu sou Pequena

Pequena na aparência
Gigante na cama
O tesão lhe deu ardência
Era a mulher que ama

Pequena foi boa mãe
Zinho foi bom pai
Porém o azar da sorte
A pobre Zinho lhe cai

Seu filho era maldito
Tinha o diabo no corpo
Nem Santo Expedito
Tirava aquilo do tosco

Porém a sorte sorriu
O Diabo gente fina era
Dinheiro lhes deu mais de mil
E a fome saiu da espera

O Diabo entrou pra família
Fazendo estragos pequenos
As vezes queimava a braguilha
Mijando  pequenos venenos

Vendo tv, as vezes soltava pum
De seu rabo saia fogo
Sofá, queimou mais um

Na escola o Diabo
Sentava no fundão
No recreio comia quiabo
E suco de mamão

Zinho e Pequena
Com seu filho chifrudo
Não tinham problema
O amavam mais que o mundo
O amor sempre vale a pena

Amar o próximo como a ti mesmo
Foi o que ele falou
Mesmo que o Diabo esteja mais perto
Ame a ela que te amou.

domingo, 1 de abril de 2012

VÓ CREUSA

Sozinho?

Sim.

E agora?

Você e o papel digital. Você faz um papel digital.

Sim.

Onde ela está?

No meu... ela está em outra cidade.

Mas ela te rodeia não?

Sim, pensamentos, fotos na parede, mensagens. Ela e minha família. São as partes boas. Mas também tem os fantasmas.

Sozinho?

Pois é... Nem tanto pelo jeito. Eu e você, você digital.

Felicidade, tristeza... 

Sei lá... Outro dia chorei vendo o jornal. Um homem estuprou a filha de nove meses. Juro, essa foi a notícia. Preciso dizer mais alguma coisa? Quer dizer... Não imaginei que alguém seria capaz de fazer isso, entende? O tanto que o homem consegue ser sublime e poético, ele consegue ser grotesco e filho da puta.

Por que ta falando dessa merda? Que coisa bizarra.

Não sei... Foi um tapa na minha cara essa notícia...  Fiquei com medo da vida. Esqueci o quanto a vida podia ser cruel, sabe? Eu nunca vejo jornal... Não estava acostumado com essas atrocidades... E é incrível como a maioria dos jornais só passa esse lado nosso.  O que tanto atrai as pessoas? Talvez o susto nos una, nos controle... sei lá... mil questões em cima disso.

Que bosta.

Mas por outro lado....

O quê?

Uma senhora....

“Uma senhora?”

Sim. Uma senhora, no aeroporto de Recife. Falou comigo. Ela era balconista de um loja de artesanato. Fiquei louco com a loja. Muitas coisas legais. Comprei uma peça linda, um boneca de uma mulher de vestido verde, loira, tocando uma sanfona rosa, muito bonito. Quando levei o caixa a dona Creusa pegou a peça e sorriu. Creusa é uma senhora bem magrinha e enrugada, pele queimada de anos e anos de sol, ela é meio bege e cinza, usa um casaquinho leve de lã e uma touca trançada prendendo os poucos cabelos. Ela tinha o sorriso no olhar. Quando entreguei a peça a ela, parece que ficou emocionada. Parece não, ficou mesmo. O brilho no olhar virou um farol.

-       Essa peça é muito bonita. Admiro você meu neto.
-       Puxa, hehe. Obrigado.
-       É... eu admiro pessoas de bom gosto. Peça especial, eu vou embalar ela direitinho.
-       Obrigado, é linda mesmo.
-       Você é de São Paulo?
-       Sim. Estava em Caruaru,  fui fazer um show lá.
-       Caruaru? Minha terra.
-       Ah é? Que legal. Adorei lá.
-       Comeu Sarapatel meu neto?
-     Comi sim.... vó!
-       E gostou?
-       Aí já é outra história!

Ela ri alto.

-       Eu adoro Sarapatel.
-       Eu to brincando, eu gostei muito. Adorei sua cidade.

Ela sorri ainda com mais alegria no olhar, se emociona.



-       Tem que tomar cuidado. Dora, traz mais plástico bolha.  Olha que bonita que é. Na hora de levar ela no avião, cuidado, ta bom meu neto?
-       Ta bom, vou cuidar sim.
-       Tem assassinos.
-       Assassinos.
-       Sim, verdadeiros assassinos,  jogam a mala em cima e.... Ai meu Deus.
-        
Suas mãos carregavam cuidado e experiência, enrolava a boneca de papel machê como quem trocasse as fraldas de um bebê de nove meses. Linda e cuidadosa. Ela me entrega o embrulho com carinho, eu sorrio, me estico pelo balcão e dou um beijo na sua bochecha enrugada e linda.

-       Vou te contar um segredo meu neto...
-       Aé?
-       É... eu bem, eu sinto as coisas.
-       Hum...

Me aproximo do balcão. Ela se aproxima do meu ouvido.

-       Você não vai sofrer na vida.



Fui embora me sentido verdadeiramente sortudo e iluminado.