sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CONVERSA AFIADA 1 - Carma

Dois amigos, um bar.

-       To cansado.
-       Do quê?
-       Dessa vida.
-       Dessa vida? Que drama!
-       Verdade, essa minha vida... 
-       E você já viveu alguma outra?
-       Sim. Já fui um Javali.
-       Como é?
-       Eu fiz uma regressão. Sabe? Dessas que as pessoas lembram das vidas passadas.
-       Sim. E você era um Javali?
-       Era ótimo. Eu morava em uma floresta no sul da Inglaterra. O único problema era minha mãe.
-       O quê tinha sua mãe?
-       Uma porca! Mas adorava meus irmãos. A gente se divertia. Era uma vida boa, sabe? Eu era vegetariano, tomava banhos de lama, morava com meus pais, era ótimo.
-       Iaí?
-       Bem, aí um filha da puta de um caçador me fudeu. O desgraçado atirou uma flecha na minha bunda, foi horrível. Acabei em cima de uma mesa com uma maçã na boca.
-       Ah! Então é por isso...
-       Que eu não gosto de maçãs!
-       Que curioso, né?
-       O pior foi a flechada na bunda. Aquilo doeu muito.
-       Imagino.
-       Eu acho que esse caçador reencarnou no Thomáz.
-       Como é? O Thomáz? Que estudou com a gente?
-       É. Ele... Sei lá. Eu simplesmente não vou com a cara dele.  Quando eu vi ele pela primeira vez eu tive vontade de dar um soco nele!
-       Sei como é. Já passei por isso. Simplesmente não bate o santo, né? Você olha na cara do sujeito e sabe que ele é um idiota.
-       Exatamente.
-       Eu sinto isso sempre que olho no espelho.
-       Dizem que isso é carma, né? Dizem que viemos nessa vida para resolver nossos carmas de vidas passadas com essas pessoas. Você deveria fazer uma regressão.
-       Melhor não.
-       São coisas de outras vidas. Pra quê mexer nisso? Se eu esqueci é por que não deveria lembrar.
-       Tá com medo de quê?
-       Eu com certeza fui um canalha na vida passada.
-       Como você sabe?
-       Eu sinto cara. Eu vim nessa vida trabalhar minha canalhice. A todo momento eu tô resistindo a fazer alguma merda. Eu sou bom em fazer merda. E outra, eu assisto Big Brother.
-       E daí?
-       E daí que eu gosto.
-       É, você é um ridículo.
-       Com certeza na vida passada eu fui um ladrão ou um psicopata. Eu vejo criminosos na tv e sei exatamente onde eles erraram, por que foram presos.
-       Aquele cara que assaltou o banco semana passada. O quê ele fez de errado?
-       Usou uma revolver. Idiota. Armas são para roubar carros. Para roubar um Banco, basta uma granada. O banqueiro não se importa se algum empregado morrer, muito menos se um cliente tomar um tiro. Agora, ameaça explodir o dinheiro deles!
-       Em... Vai lá ver como era sua vida passada.
-       Puts... Será? Vai que eu era uma prostituta?
-       E daí?
-       Como e daí? Eu não quero lembrar da época que eu ganhava dinheiro chupando pintos.

Nesse momento chega o garçom. Acha o papo muito estranho e sai constrangido.

-       Tá. Eu vou lá.

UMA SEMANA DEPOIS

-       Iaí! Como foi?
-       Puts.
-       O quê?
-       É meio foda.
-       Você era um canalha mesmo? Matou alguém?
-       Não. Na verdade eu era um pai de família. Honesto e trabalhador. Trabalhava no campo e tinha 5 filhos. Minha mulher morreu quando o último nasceu. O Erik  nasceu cego, eu tinha que cuidar dele. Não deixava meus filhos trabalharem comigo, por mais que na idade média trabalho infantil fosse moda, eu achava errado. Achava que eles tinham de estudar. Vendi minhas botas para minha filha poder ter um vestido de casamento. Um dia a terra não estava mais dando frutos. Começamos a passar fome. Fiquei sem comer 5 dias por que me recusava a pedir esmola. No quinto dia, lembrei que tinha uma arco e flecha que havia ganho do meu pai, ele morreu em uma guerra pelo nosso país. Peguei o arco e flecha a fui caçar Javalis. Acertei um na bunda. Minha terceira filha ganhou algumas maçãs e naquela semana não passamos fome.
-       ... Seu filha da puta!


Em seguida vemos os dois no outro lado do bar. Um está com os dardos do “Tiro ao alvo” enquanto o outro fica de costas, abaixa um pouco as calças e espera a punição, nisso o garçom se aproxima para tirar satisfação.
  
    - Amigo. Por favor não se meta. É um negócio de carma.




3 comentários:

  1. Hahahahaha, cada dia melhor, meu amor. Quanto mais lê, melhor escreve. Você tá arrasando. Meu orgulho!!

    PS: Eu sou suspeita tbm, que nem a Gabi, eu sei... Mas estou falando sério, vc sabe que eu não sou de puxar saco...!! ;)

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