sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CONVERSA AFIADA 6 - Eu odeio você!




-       Eu odeio você, sabia?
-       Cacete. Como assim cara?
-       Você é uma pessoa repugnante.
-       Sim. Mas precisa me odiar por causa disso?
-       Pior não é isso. Pior é que você anda comigo!
-       E daí?
-       E daí? E daí que eu sou muito pior que você! Eu sou canalha.
-       Eu sei. Você comeu minha mulher, lembra?
-       Qual, a primeira ou a segunda?
-       A segunda...
-       Ah, sim! Lembro. Comi mesmo.
-       Então porra. Você me odeia? Eu deveria te odiar.
-       Claro, é disso que eu to falando. Por que você anda comigo ainda?
-       Eu não tenho nenhum outro amigo, a gente se conhece dês de pequeno, quer dizer, você sabe tudo sobre mim... Como eu não vou ser teu amigo?
-       Eu comi a sua mulher!
-       Sim, tem que ser muito brother pra fazer isso. Eu não ia deixar um desconhecido fazer isso.
-       Então você sabia?
-       Sempre. Eu que convenci ela. Ela não queria. Achava você nojento.
-       Ela chupou meu pau.
-       Claro...  Essa parte até que ela gostou. Disse que foi mais fácil chupar você, parecia um pirulito. Tava cansada de ficar com a mandíbula desloca me chupando. Seu pau pequeno!
-       Mas por que você convenceu ela a dar pra mim?
-       Por que você não come ninguém! Porra, era o mínimo que eu podia fazer.
-       Verdade. Caramba. Depois de comer sua mulher minha vizinha começou a me olhar mais, aí eu voltei a transar de vez em quando.
-       Ta vendo? Ainda me odeia?
-       Claro. Porra, odeio mais. Você é ridículo. Olha o que fez com a sua mulher. Você acha que ela é um objeto, que ela não tem sentimentos? Eu achei que gostasse de mim.
-       Ha ha ha! Ai ai... Essa foi boa. Foi só sexo velho. Amor ela faz comigo.
-       Eu queria que alguém fizesse amor comigo.
-       Não é assim. Amor é algo que se constrói. Algo que o destino te apresenta com o passar dos tempos ao lado da pessoa.
-       Odeio quando você fica metido a professor de auto ajuda. Você é ridículo. Eu sou depressivo, canalha, preguiçoso. Te odeio.
-       Esqueceu de idiota também. Ainda me odeia?
-       Eu só posso odiar alguém que anda comigo. Eu me conheço. E se você anda comigo, você também não presta.
-       Verdade. Porém, não temos volta. É como um casamento com filhos, a gente não pode se separar por causa dos filhos, embora a gente se odeie.
-       Mas não temos filhos.
-       Como não? E o Fausto?
-       O Faustinho é meu filho?
-       Sempre foi.
-       Caramba! Eu tenho um filho de 10 anos...
-       12.
-       Não, 10.
-       Ah! Verdade, 10.
-       É meu mesmo?
-       Claro que é. Oh menino retardado, é a sua cara. Criança burra. Nunca vi. Outro dia ele tava comendo um pedaço do sofá.
-       E agora?
-       Agora nada. Se der algum problema eu processo ela e você. O menino é meu refém.
-       Ta vendo como você é um escroto?
-       Quase pior do que você! Por isso a gente se da bem. Somos muito parecidos.
-       Seu filha da puta, vem aqui. Da um abraço!

11 comentários:

  1. Será que eu viajei demais naquela história de que a gente se espelha no outro? A gente se vê no outro e esse cara odeia o outro porque é como ele. Engraçado isso. Curioso, instigante. Até que ponto vai a amizade? O que você cede e esconde numa relação? Até onde você envolve as pessoas para conseguir o que você quer?

    Uhhhh, muuuitas reflexões. Bom texto, amor! Surpreendendo sempre.

    :)

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  2. Adorei este texto, mas esse diálogo nunca existiria entre duas amigas... apenas homens conseguiriam se expor desta forma nonsense mas sincera! adorei! :)

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  3. uhdsaudhashuHUAUADSH ... Ótimo texto, vou levar para meus professores lerem .

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  4. Esse texto é super original cara, me vi nele, menos o detalhe de não ter mulher, não transar e não ter amigos que me odeiem,mas é a minha cara.

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