quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

RESTAURANTE INDIANO

O ambiente: um restaurante Indiano, beeem Indiano.

Música de fundo: 

-       Cara, você vai adorar a comida.
-       Bem, eu já gostei da garçonete. Mas aqui não se pode comer carne, né?
-       Seu idiota. Você pode pedir metade ou prato inteiro. Olha só, aqui tem só duas opções no cardápio.
-       Me lembra aquela piada do Bruno Motta. As opções são “sim e não”?
-       Olha aí, na opções 1 tem arroz integral com brócolis, Dahl de ervilha com legumes e gengibre...
-       Pera aê.. Tem o quê? Dahl? Tipo Dahl Sim? Do Street Figthers?
-       Isso, chama Dalh!
-       O quê é Dalh?  É feito por um cozinheiro com síndrome de Dahl?
-       Para de falar merda. É tipo um caldo.
-       Tá, e o que é gengibre?
-       Gengibre é uma raiz. Faz muito bem. Dizem que os indianos vivem mais por que comem gengibre.
-       Jura? Mesmo com síndrome de Dahl?
-       Você ta querendo me irritar, né?
-       Foi mal.. parei.
-       Ah... enfim. Escolhe aí, um ou dois. Eu vou querer metade do dois.
-       Então vai querer o um?
-       Você é surdo?
-       Você é burro?
-       Como assim?
-       Porra, metade do dois é um, mané! Hahaha!


Os dois estão sentados em pequenas cadeiras de madeira. A maioria das pessoas pensa que são cadeiras da mesinha  das crianças nos almoços de família.  Na mesa, a garçonete traz os talheres e anota os pedidos. Os talheres são mais pesados do que o normal. Todos tem detalhes no cabo, pequenos ramos retorcidos com flores desenhados no metal prateado. Garfo, faca e duas colheres.  Estão cercados de solitários. De um lado da dupla uma mulher magra, cabelo preto preso, com roupa de executiva, ela come lentamente e tem um olhar solto pelo espaço cercado de quadros com fotos de gente azul beijando vacas ou elefantes beijando vacas, ou mesmo vacas beijando vacas.  Ao lado da executiva uma mulher gorda e mais velha, ela tem uma blusa florida rosa e uma saia bege, ao lado de seus sapatinhos pretos e apertados uma sacola abrigando uma planta que se estica pra fora. Atrás há um jovem loiro bonito e forte que come um livro e lê o prato um prato.  Do outro lado um homem magro, de óculos e camisa social com finas listras vermelhas, amarelas e pretas. Está devorando a comida. Chamou a garçonete gostosa duas vezes para pedir mais comida, as mesma porções do que ele gostou mais, ele sem dúvida é gay por causa do jeito de falar.

-       Reparou que todo mundo aqui é meio silencioso?
-       Por que você não segue a moda do lugar?
-       Eu acho bizarro. Até você, no momento que entrou aqui mudou seu jeito de falar, de andar.
-       Eu? Não.
-       Você sabe que sim. Você ficou puto por que vim com camisa do Corinthians. A primeira coisa que você olhou quando cheguei  foi a camisa. Como se Corinthiano não pudesse ser Budista.
-       Você conhece algum?
-       Não.  Falou sério quanto ao lance de gengibre?
-       Sim. Ouvi dizer que faz muito bem, você vive mais comendo gengibre.
-       Então vou começar a ritualizar o gengibre, sabe?
-       Ritualizar?
-       É, assim, vai ser sagrado, vou comer uma lasca de gengibre todos os dias, depois de fumar meu cigarro. Assim, consumo um que mata e um que dá vida. Fico no zero a zero!
-       Por mais idiota que você seja, isso faz um pouco se sentido... Mas bem pouco.
-       Fala normalmente comigo.
-       To falando.
-       Você mudou seu tom, e o volume da voz.
-       As pessoas não precisam ouvir nossa conversa. Só a gente ta falando.
-       Não me interessa se elas vão ouvir. Que culpa eu tenho de ter um amigo que me chama pra comer em um restaurante cheio de gente encalhada?
-       Fala baixo....
-       É sério. Em pleno sábado. Pessoas em um restaurante indiano comendo sozinhas? Esse é o tipo de lugar pra trazer uma mina e fazer um charme. Dar um de descolado intelectual que não come carne e beija as vacas. E esses quadros em? Será que  eles tem um calendário com vacas  em poses sensuais também?

A garçonete gostosa traz a comida, bebida e sobremesa. Os dois pratos são de metal, redondos, com pequenas ondulações, como se um gigante forte tivesse amassado a borda dos pratos com seus dedos. O copo com suco de gengibre e ervas também é de metal, assim como o pratinho de sobremesa. Umas espécie de tortinha branca light com caldo de amora.


-       Eu falei que você ia gostar!
-       Eu amei! Muito bom! Pena que não enche o bucho.
-       Você não ta satisfeito.
-       Não. To sentindo um vazio.
-       Isso é por que você sempre como carne. Carne pesa. Você acha que esse peso é a sensação de satisfação. Mas é só peso. Você comeu bem.
-       Pode ser...  É meio sacanagem vim num restaurante  vegetariano com um monte de imagem de vaca na parede.
-       Por quê?
-       É como ir na igreja e ver na parede um monte de capa de Playboy. Estimulo certo, no lugar errado.
-       Vamo embora! Semana que vem a gente come no Mc Donald’s ok? Lá você pode comer um monte de vaca olhando o idiota do mês na parede.
-       Não fala assim. O cara que trabalha no Mc tem tanta dignidade quanto o cara que trabalha aqui. Ta bom, talvez não tanta dignidade. Mas ele ta trabalhando e merece respeito.
-       Vamo embora, vamo.



 


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